Ironicamente – ou não –, sua primeira oportunidade foi na Farmácia Marques, onde aprendeu tudo sobre negócios e farmacologia. Tanto que, no auge dos seus 20 anos, Norberto Gomes colocou tudo o que aprendeu em prática – e o que guardou em anos de trabalho – para conseguir comprar uma farmácia chamada Galvão, que o consolidou como empresário.
Alí foi o ponto de virada de sua vida. Isso porque, foi nos fundos do estabelecimento, que ele começou a criar suas invenções que, com razão, homenageavam a ele mesmo. Assim nasceu o Antigripal Jesus, Xarope Peitoral Jesus e a Jesulina Paste Dentifrícia. Nessa leva de invenções, surgiu o Guaraná Jesus, por ser comum ter refrigerantes à venda em farmácias naquela época.
Mas ele não acertou a fórmula de primeira, criando um refrigerante com um gosto um pouco amargo na opinião dos clientes. Norberto Gomes continuou tentando até que seus netos aprovaram a última versão, feita toda à base de extratos vegetais, inclusive o corante.
O sucesso foi imediato, causando tanta repercussão quanto as crenças do criador, que era ateu convicto e tinha fama até de comunista. E foi isso que o fez ser preso em decorrência da Intentona Comunista, em novembro de 1935, com um grupo de 80 pessoas, e levado até o Rio de Janeiro, onde permaneceu até o ano seguinte.
A revolução
Em entrevista à Revista Piauí, em 2007, Fábio Gomes, neto do inventor, revelou que o avô escreveu uma carta-testamento a punho em meados de 1958 pedindo por um funeral modesto, e determinando que o que sobrasse fosse doado ao Partido Comunista.
Norberto Gomes faleceu em 1963 e, cerca de 20 anos depois, sua família vendeu a marca à antiga Companhia Maranhense de Refrigerantes, na época uma franqueada da Coca-Cola no estado. Demorou até 2001 para que o Guaraná Jesus fosse adquirido oficialmente pela Coca-Cola Brasil e integrasse o portfólio de produtos.
Para Rodrigo Assunção, diretor de Marketing e Planejamento Estratégico da Solar, manter os aspectos tradicionais da bebida foi um compromisso que a marca assumiu para honrar o legado de Norberto Gomes, tanto que os elementos gráficos do rótulo representam a cor do produto e o logotipo à assinatura do seu criador. E Assunção garantiu que o produto que um consumidor bebe hoje é o mesmo em sabor e qualidade ao de 89 anos atrás.
Esse comprometimento geracional foi tanto que, em 2008, os consumidores escolheram a nova identidade visual entre três opções apresentadas por meio de voto popular. A ideia foi um sucesso tão grande em crítica e público que a iniciativa ganhou medalha de ouro de Melhor Estratégia de Marketing no Prêmio Internacional de Excelência em Design (IDEA).
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