Perdi todas as mulheres que eu considerava minhas mães.

Nasci de um parto complicado, uma cesariana vertical de emergência. Entrei no mundo com risco de morte para mim e para minha mãe biológica. Naquele momento, um jovem médico, Dr. João Marcos, fez o que pôde — e eu nasci.
Aos seis meses, minha mãe já estava grávida novamente. Meu pai começou a rejeitar a situação, e fui entregue aos cuidados da minha avó — que, na verdade, era minha bisavó — a quem eu chamava carinhosamente de Vovó das Dores. Ela me criou até os meus 13 anos.

No dia do meu 13º aniversário, enterrei minha primeira mãe de criação. Ela tinha 87 anos e foi quem me ensinou o que era paciência. Tinha passado por tudo comigo, inclusive por uma meningite. E ali, naquela data, eu já sentia que a vida seria mais dura do que o normal.

Voltei a viver com Dona Maria Vanuzia, também minha bisavó. Ela criava uma neta, Iranilda Maria Cordeiro, que cuidava da minha alimentação e me ensinava receitas. Tinha prazer em cozinhar e me transmitir carinho com a comida.

Depois, Vanuzia viu seu filho deixar o exército e se casar. Toda feliz, pediu que sua neta se chamasse Clara. Três dias após esse casamento, no meio da alegria, outro baque: minha mãe Vanuzia caiu na sala, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Liguei para o SAMU, iniciante na época, mas ouvi o que nenhum filho quer escutar: “Meus pêsames.” Procurei chão e não achei. Mas levantei a cabeça e segui.

Assumi minha família. Virei conselheiro dos meus irmãos. O mais novo, Anderson Cordeiro, tinha apenas cinco anos. Lembro dele me segurando a mão, vendo nossa mãe caída. Eu disse: “Eu vou cuidar de você, meu irmão.” Fui pai antes da hora, sem referência de mãe.

Me voltei às mulheres que ainda estavam presentes: Iranilda e Ivani. Ivani, mãe da minha mãe e de Iranilda, era a mais sábia. Um dia, em uma visita, chamei-a de "mãe". Ela olhou pra mim com olhos marejados e disse: “Meu filho, segue seu caminho. Você está indo bem.” Na pandemia, já magra e com dores, eu soube que algo não estava bem.

Reuni a família para uma despedida. No fundo, eu sabia. Ela foi ao hospital com problemas nos rins e lá contraiu COVID. Foi forte — mãe de 12 filhos, já havia enterrado 4 — mas dessa vez, foi vencida. A pandemia não permitiu uma despedida digna. Me culpei até ver o laudo: não foi COVID na entrada, mas foi lá que ela pegou. Enterro sem aglomeração, sem família. Um vazio.

Iranilda, que cuidava de mim, também enterrou a própria mãe, Ivani. E, em dezembro de 2024, ela mesma adoeceu. Câncer. Faleceu no dia do nascimento de sua filha, Viviane. Um ciclo difícil de compreender.

Agora, olhem as datas dessas perdas:

Maria das Dores de Jesus – faleceu no dia do meu aniversário.

Maria Vanuzia Cordeiro – faleceu no dia do aniversário dela.

Ivani Maria Cordeiro – faleceu no dia do aniversário da minha filha.

Iranilda Maria Cordeiro – faleceu no dia do aniversário da minha filha mais velha.


Em homenagem a essas mulheres fortes, minhas Marias, dei seus nomes às minhas filhas:

Maria Clara
Maria Heloísa

Para que eu jamais esqueça de onde vim.

Na nossa família Cordeiro, todas as mulheres — exceto minhas irmãs — carregam o nome Maria.
Assim como Maria, mãe de Jesus. A mulher que gerou o exemplo de amor, paciência, respeito e entrega.

Que Jesus ilumine os caminhos de todas as mães — as que geram, as que criam, as que protegem.
Mãe não é lembrada apenas hoje. Mãe é todo dia. E eu sei bem disso.

Com carinho e respeito de coração,
Um abraço do Cordeiro aqui.

Feliz Dia das Mães.


Texto corrigido e arte feito por :gpt 

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